vendredi, novembre 09, 2012

afro-metal

Essa semana o trio Metá Metá, formado por Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França, lançou virtualmente o segundo e aguardado álbum MetaL MetaL.

A brincadeira e referência ao gênero do rock surgiu durante os shows do primeiro disco quando ampliaram a formação original - voz, violão e sax - incluindo baixo, percussão e bateria, formando uma versão mais "pesada" do Metá.

Mas a nova formação não deu apenas mais peso a sonoridade, ela possibilitou ampliar a linguagem musical do trio e trazer novas referências ao tema, que permanece o mesmo: o universo musical afro-religioso brasileiro.

Desde os "Os Afro-sambas" de Baden e Vinícius que esse universo é constantemente referenciado na canção popular brasileira, mas desde 1966 não havia um álbum inteiro dedicado ao tema, e tão feliz e ousado como MetaL MetaL.

O violão de Kiko Dinucci, muitas vezes relacionado à Baden por sua forma percussiva, agora divide espaço com uma guitarra que parece receber o mesmo tratamento dedilhado, percussivo e até arranhado, com referências da guitarrada paraense e de ritmos africanos. O mesmo acontece com Thiago França que une ao sax e flauta, sintetizadores e o sopro eletrônico do EWI.

Esses ritmos africanos estão muito presentes nesse álbum, do afrobeat nigeriano na faixa 'Logun', a um clima etíope que lembra o trabalho de Mulatu Astatke na 'Man Feriman' até a doce canção 'Cobra Rasteira' que tem ares cabo verdianos.

Cantigas de domínio público tradicionais nos terreiros de candomblé unem-se a composições de Kiko e de sua parceria com Douglas Germano, algumas já gravadas anteriormente como 'São Jorge' e 'Rainha das Cabeças' que foram ganhando novo corpo e vigor nos shows. A temática das letras são os Orixás - Exu, Iansã, Ogun, Oxum, Logun Edé e Orunmila estão representados em canções que seguem os moldes dos cantos religiosos de adoração e celebração, inclusive escritos também na língua iorubá.

A celebração é intencional, as músicas são quase todas fortes, agressivas, com andamentos rápidos, parecendo ser feitas para a catarse coletiva. E o canto de Juçara Marçal que passeia incrivelmente pelos diversos climas e tons é que transporta e compartilha a todos essa catarse. A atitude e a força do disco é que vem do rock, do heavy metal!

E fechando o álbum a canção 'Tristeza Não' de Alice Ruiz e Itamar Assumpção, que apesar de fugir da temática do disco, acentua o metal e encerra com uma grande homenagem ao cantor que é referência para o trio.

"Cantar como quem resiste
Resistir como quem deseja
Meu versejar seja
Sorriso que te visite
A brisa que te beija
E que te festeja"


E Viva o MetaL!


O disco está disponível para download no site: http://www.kikodinucci.com.br/




* texto publicado hoje no Uia

jeudi, novembre 01, 2012

Trabalhos Carnívoros


"... o momento é histórico, para o bem da nossa espécie.
O terreno treme forte para os mal acostumados.
O costume anuncia, e a pele se regenera, para o bem da nossa espécie."

Essa letra é da canção que abre o belíssimo disco "Trabalhos Carnívoros" do compositor, cantor e produtor Gui Amabis.

O momento histórico é para mim o cenário brilhante e o terreno que treme da atual produção da música popular brasileira, uma produção que se regenera, e sim: para o bem da nossa espécie, como prova esse disco.

"Todas essas letras são o brilho de uma alegoria que vivi e despi."

Já na canção "Tiro" Amabis dá o tom pessoal que permeia o disco. Depois de se encontrar com suas memórias e raízes no disco de estreia "Memórias Luso-Africanas" (2011), o músico amadurece na linguagem, na canção e também no trabalho de cantor, assumindo esse lado ainda pouco conhecido do público. As letras trazem experiências e narrativas pessoais, ao mesmo tempo líricas e pragmáticas, "com o foco bem mais preciso" com ele diz.

É um disco coeso, minucioso também na produção, no repertório, no projeto gráfico, teaser e no lindo clipe (abaixo). Motivo de tamanho capricho talvez venha de seu trabalho como produtor de trilhas sonoras (já assinou de filmes como 'O Senhor das Armas', 'Quincas Berro D'água', 'Bruna Surfistinha'...), metier que requer uma grande delicadeza e habilidade para criar climas e atmosferas, o que fica claro em "Trabalhos Carnívoros".

Outros pontos altos do disco? A balada "Crepúsculo" aquela forte candidata ao repeat e a guitarra de outro mestre dos climas Régis Damasceno.

Uma audição imperdível! O disco está disponível para download no site do músico até 17 de novembro. Então vai lá!

"Já me disse um bom amigo, merece quem aceita."



textinho publicado hoje no Uia.