Essa semana o trio Metá Metá, formado por Juçara Marçal, Kiko Dinucci
e Thiago França, lançou virtualmente o segundo e aguardado álbum MetaL
MetaL.
A brincadeira e referência ao gênero do rock surgiu
durante os shows do primeiro disco quando ampliaram a formação original -
voz, violão e sax - incluindo baixo, percussão e bateria, formando uma
versão mais "pesada" do Metá.
Mas a nova formação não deu apenas
mais peso a sonoridade, ela possibilitou ampliar a linguagem musical do
trio e trazer novas referências ao tema, que permanece o mesmo: o
universo musical afro-religioso brasileiro.
Desde os "Os
Afro-sambas" de Baden e Vinícius que esse universo é constantemente
referenciado na canção popular brasileira, mas desde 1966 não havia um
álbum inteiro dedicado ao tema, e tão feliz e ousado como MetaL MetaL.
O
violão de Kiko Dinucci, muitas vezes relacionado à Baden por sua forma
percussiva, agora divide espaço com uma guitarra que parece receber o
mesmo tratamento dedilhado, percussivo e até arranhado, com referências
da guitarrada paraense e de ritmos africanos. O mesmo acontece com
Thiago França que une ao sax e flauta, sintetizadores e o sopro
eletrônico do EWI.
Esses ritmos africanos estão muito presentes
nesse álbum, do afrobeat nigeriano na faixa 'Logun', a um clima etíope
que lembra o trabalho de Mulatu Astatke na 'Man Feriman' até a doce
canção 'Cobra Rasteira' que tem ares cabo verdianos.
Cantigas de
domínio público tradicionais nos terreiros de candomblé unem-se a
composições de Kiko e de sua parceria com Douglas Germano, algumas já
gravadas anteriormente como 'São Jorge' e 'Rainha das Cabeças' que foram
ganhando novo corpo e vigor nos shows. A temática das letras são os
Orixás - Exu, Iansã, Ogun, Oxum, Logun Edé e Orunmila estão
representados em canções que seguem os moldes dos cantos religiosos de
adoração e celebração, inclusive escritos também na língua iorubá.
A
celebração é intencional, as músicas são quase todas fortes,
agressivas, com andamentos rápidos, parecendo ser feitas para a catarse
coletiva. E o canto de Juçara Marçal que passeia incrivelmente pelos
diversos climas e tons é que transporta e compartilha a todos essa
catarse. A atitude e a força do disco é que vem do rock, do heavy metal!
E
fechando o álbum a canção 'Tristeza Não' de Alice Ruiz e Itamar
Assumpção, que apesar de fugir da temática do disco, acentua o metal e
encerra com uma grande homenagem ao cantor que é referência para o trio.
"Cantar como quem resiste
Resistir como quem deseja
Meu versejar seja
Sorriso que te visite
A brisa que te beija
E que te festeja"
E Viva o MetaL!
O disco está disponível para download no site: http://www.kikodinucci.com.br/
* texto publicado hoje no Uia
vendredi, novembre 09, 2012
jeudi, novembre 01, 2012
Trabalhos Carnívoros
"... o momento é histórico, para o bem da nossa
espécie.
O terreno treme forte para os mal acostumados.
O costume anuncia, e a pele se regenera, para o bem da nossa
espécie."
Essa letra é da canção que abre o belíssimo disco
"Trabalhos Carnívoros" do compositor, cantor e produtor Gui Amabis.
O momento histórico é para mim o cenário brilhante e o
terreno que treme da atual produção da música popular brasileira, uma produção
que se regenera, e sim: para o bem da nossa espécie, como prova esse disco.
"Todas essas letras são o brilho de uma alegoria que
vivi e despi."
Já na canção "Tiro" Amabis dá o tom pessoal que
permeia o disco. Depois de se encontrar com suas memórias e raízes no disco de
estreia "Memórias Luso-Africanas" (2011), o músico amadurece na linguagem,
na canção e também no trabalho de cantor, assumindo esse lado ainda pouco
conhecido do público. As letras trazem experiências e narrativas pessoais, ao
mesmo tempo líricas e pragmáticas, "com o foco bem mais preciso" com
ele diz.
É um disco coeso, minucioso também na produção, no
repertório, no projeto gráfico, teaser e no lindo clipe (abaixo). Motivo de
tamanho capricho talvez venha de seu trabalho como produtor de trilhas sonoras
(já assinou de filmes como 'O Senhor das Armas', 'Quincas Berro D'água', 'Bruna
Surfistinha'...), metier que requer uma grande delicadeza e habilidade para
criar climas e atmosferas, o que fica claro em "Trabalhos
Carnívoros".
Outros pontos altos do disco? A balada
"Crepúsculo" aquela forte candidata ao repeat e a guitarra de outro
mestre dos climas Régis Damasceno.
Uma audição imperdível! O disco está disponível para
download no site do músico até 17 de novembro. Então vai lá!
"Já me disse um bom amigo, merece quem aceita."
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