resenha minha publicada ontem no Uia Diário.
Labirintos sempre me lembram do escritor argentino Jorge Luís Borges. Sua fixação por eles em seus textos é grande, seus labirintos sempre apontam o infinito, labirintos de palavras, ideias, símbolos. Até a vida, em seus caminhos e bifurcações, são para ele “invisíveis labirintos de tempo”.
‘Um Labirinto em Cada Pé’ é o título do quarto álbum do cantor e compositor paulistano Romulo Fróes, que assim como Borges, expõe seu particular labirinto de sons e palavras. Mas esse não é um labirinto de percursos intrincados, mas sim de possibilidades e encontros. Nesse disco Romulo amadurece e apresenta uma bonita e harmônica seleção de canções.
Em 2009, Romulo, em pleno percurso labiríntico de sua trajetória musical, lançou o genial ‘No Chão Sem o Chão’. Nesse disco duplo o cantor explorou todo seu rico repertório e abriu espaço para experimentações. Se desfez do rótulo de sambista triste, adquirido com os primeiros álbuns, e trouxe novas sonoridades, desde um som pesado, roqueiro a leveza de marchinhas e frevos. ‘No Chão Sem o Chão’ coloca definitivamente Romulo como um importante personagem na cena musical, que busca e aponta novos caminhos para a canção brasileira.
‘Um Labirinto em Cada Pé’ chega como um álbum coeso. Romulo encontra um equilíbrio musical, onde o samba tem novamente um espaço importante, mas não está em primeiro plano, é apenas um ponto de partida. Para chegar nessa síntese, Romulo contou com o auxílio luxuoso do cavaquinho e violão de Rodrigo Campos, outro sambista “torto” e incrivelmente talentoso, e de sua ótima banda formada por Guilherme Held (guitarra), Marcelo Cabral (baixo), Pedro Ito (bateria) e Thiago França (saxofone). O disco ainda traz lindas participações de Dona Inah, Arnaldo Antunes e Nina Becker.
Outro tom labiríntico do disco é dado pelas composições de Romulo, com os parceiros e artistas plásticos Nuno Ramos e Clima (Eduardo Climachauska). Essa escrita labiríntica aponta para diversas direções e diferentes significados como uma boa obra de arte. É só ler os versos “Rosa azul é a boca vermelha / Céu nenhum é da nuca à orelha / Vôo cego é o sim da cigarra / Lua escura essa pinta na cara” ou “Eu em cada gosto razão / Cada bicho morto no chão / Voz vem ouvir”. Uma poesia torta, desconstruída, às vezes triste, irônica e até inconveniente, que dialoga bem com a voz grave e linear do cantor, que, aliás, canta cada vez melhor.
O labirinto está aberto: enverede-se!
Você pode ouvir, baixar e comprar o disco através do site: http://umlabirintoemcadape.blogspot.com/
SHOW DE LANÇAMENTO:
Quinta-feira, 30/06 às 21h
SESC Pompeia
Rua Clélia, 93 – Água Branca
Valores: de R$ 4 a R$ 12.
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