samedi, décembre 10, 2011
O Micróbio do Samba
Semana passada assisti um dos shows mais bonitos do ano, Adriana Calcanhotto apresentando seu mais recente álbum Micróbio do Samba (2011) no SESC Vila Mariana.
O grande Lupicínio Rodrigues disse que o "micróbio do samba" se apega a ele a medida que o tempo passa, e parece que o bichinho também infectou Calcanhotto. Seu novo disco traz um olhar único e sutil ao gênero e entre um prato e uma caixinha de fósforo, o samba se constrói, às vezes com cara de marchinha, axé e até mesmo incorporando uma guitarra distorcida.
As canções de Micróbio do Samba são irresistíveis. Na voz feminina ela inverte papéis tradicionais do samba, como o do malandro, em músicas como “Mais perfumado” e “Tá na minha hora” onde canta “que findo o carnaval eu tô de volta / não chora, neguinho, não chora / o meu coração é verde e rosa”. Relações, vingança, amor são temas recorrentes, representados bem pelo “amor hiperquântico” do irônico samba sincopado “Já Reparô”.
O show é um capítulo a parte. Seguindo a premissa do menos é mais, ela entra no palco sem cenário, toda de preto, com iluminação branca, acompanhada de baixo acústico, violão e uma bateria enxuta e ainda brinca com Paulinho da Viola cantando Argumento “olha que a rapaziada está sentindo a falta / de um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim”. Formada por Alberto Continentino, Domenico Lancelotti e Davi Moraes a banda de Calcanhotto altera o samba sim, e muito bem. E a rapaziada não sente falta de nada.
E a cereja do bolo são as performances e os brinquedos de Adriana, cada música tem o seu, que pode ser um MPC, um secador de cabelo ou só uma movimentação de corpo muito bem ensaiada. Um jogo teatral instigante, e difícil de ver por aí.
Adriana é dessas artistas completas que vale o clichê: canta, dança, representa... e ainda compõe. E tomara que assim como em Lupicínio, esse micróbio se apegue cada vez mais a Calcanhotto.
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textinho publicado ontem no Uia.
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