“Todo começo é involuntário”. Assim o músico e multi-instrumentista Egberto Gismonti começou o concorrido show em homenagem ao álbum Dança das Cabeças, de 1977, no SESC Belenzinho no último sábado, em São Paulo. O verso de Fernando Pessoa foi citado por Gismonti para ilustrar o inesperado encontro entre ele e o percussionista Naná Vasconcelos em meados de 1976, em Paris. Involuntariamente e “sem tempo para ensaios” nascia ali esse instigante disco de dois monstros da música brasileira.
A dupla trouxe para o palco paulistano o tema “dois curumins na floresta”, que deu forma às dez faixas do trabalho. O rítmico e preciso violão de oito cordas de Gismonti dialogava quase que intuitivamente com a percussão livre de Naná. Enquanto as mãos do violonista deslizavam com firmeza, o percussionista executava um balé na ponta dos pés entre chocalhos, tambores e berimbau. Dessa dança resultavam sons com sotaques bem brasileiros, mas inclassificáveis. Lá fora, o álbum ganhou importantes prêmios de música experimental, jazz, folclórica e até pop, confirmando que o desconhecido é melhor do que aquilo que sabemos.
Entre violões, piano e um universo percussivo, faixas como “Águas Luminosas”, “Quarto Mundo” e “Bambuzal” cresciam na performance dos dois músicos, com arranjos ainda mais vivos e animados que a gravação de 76. E o público, em silêncio absoluto, ora prendendo a respiração, ora exibindo rostos boquiabertos, demonstrava que tudo estava sendo absorvido. Ao fim de cada número, aplausos e gritos extasiados respondiam ao talento único de Gismonti e Naná.
* por Alice Coutinho e Luciano Máximo
** publicado no Uia Diário, dia 12 de abril de 2011
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire