
já tem um tempo que quero escrever sobre um disco. um disco que tomou minha atenção e me conquistou por completo. queria mesmo escrever sério sobre ele. uma resenha, uma critica, algo que as pessoas lessem e se impressionassem e ficassem afim de ouvir. porque a vontade é essa, de fazer todo mundo ouvir.
o disco chama "no chão sem o chão", título já intrigante que deixa escapar a veia artística e poética que ele tem. o nome por trás (e pela frente) dessa obra prima é romulo fróes, que canta, compõe e dá o rumo de 30 e tantas canções (cd duplo...).
as composições (quase todas em parceria com os artistas nuno ramos e clima) são inteligentes, bonitas, abstratas, às vezes herméticas, muitas vezes poéticas:
"A válvula da panela girava / A cozinha suava vapor de sopa quente / Sentado na cadeira de fórmica / O cantor no corner da música pensava nela finalmente"
"Saiba ficar quieto / Saiba não compor / Não fale do deserto, nem metrifique a flor / Saiba não dizer que o sol te dá calor / Saiba nunca achar bonita a minha dor"
"Pisa na grinalda, troca a fralda, leite na colher / Falta o que me falta, uma ida e volta, uma manhã qualquer / Sei que sou um cara, sei que a gente, o que você quiser / Quem mandou gostar, beijar, vem cá, cantar, trepar de pé"
enfim, ficaria aqui colocando as músicas para sempre. uma melhor que a outra.
os arranjos também partem dessa estética. por vezes lineares outras desconstruídos. mas tem uma unidade enorme, o disco, é redondo, tudo no lugar, cada música com um papel.
em seus discos anteriores falava-se sempre do samba, do samba triste como a marca de romulo; agora ele está lá, mas não está. saca? assim como o título. romulo ampliou os horizontes, ficou mais rock, mais pesado. e se juntou a uma turma também da pesada, cada um deu seu toque e formou-se o caldo.
e fróes, que não é bobo, também juntou a esse caldo belas vozes femininas, participações bem especiais como da nina becker, da andréia dias, lulina, mariana aydar...
enfim gente, precisa ouvir, ouvir e ouvir. pra mim disparado o melhor do ano.